O número de novos casos de câncer detectados anualmente em 2050 aumentará para quase 35 milhões, o que representa uma alta de 77% em relação aos 20 milhões identificados em 2022. O alerta faz parte das novas estimativas sobre a doença divulgadas nesta quinta-feira pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, da sigla em inglês), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“O rápido crescimento da carga global do câncer reflete tanto o envelhecimento e o crescimento da população, como as alterações na exposição das pessoas a fatores de risco, vários dos quais estão associados ao desenvolvimento socioeconômico. O tabaco, o álcool e a obesidade são fatores-chave por trás do aumento da incidência do câncer, sendo a poluição atmosférica ainda um fator-chave dos de risco ambientais”, diz a agência em nota.
O oncologista Carlos Gil, diretor médico da Oncoclínicas&Co. e presidente do Instituto Oncoclínicas, explica que a poluição do ar, por exemplo, tem se tornado um fator cada vez mais importante ao passo que estudos mostram uma maior incidência do câncer de pulmão entre não fumantes em regiões com maior concentração de poluição atmosférica. Ele destaca ainda o avanço da doença entre jovens:
— A estimativa da OMS mostra algumas alterações de transição epidemiológica do câncer. É esperado que a incidência aumente pelo envelhecimento da população, mas o que vemos hoje também é um crescimento de alguns tumores em indivíduos jovens. Por exemplo, o câncer colorretal, o de pulmão, são casos provavelmente relacionados a essas questões do ambiente, o sedentarismo, a obesidade, o excesso de álcool, o tabagismo e a poluição ambiental — conta ele, que também preside a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
A IARC alerta ainda que o maior aumento percentual de crescimento da doença, de até 142%, deverá ser registrado pelos países com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Já os países na faixa média do IDH verão um aumento de 99%, disse a OMS. “Da mesma forma, prevê-se que a mortalidade por câncer nestes países quase duplique até 2050”, afirma a organização.
“O impacto deste aumento não será sentido de forma uniforme nos países com diferentes níveis de IDH. Aqueles que têm menos recursos para gerir o fardo do câncer suportarão o peso do fardo global da doença”, diz Freddie Bray, chefe do ramo de Vigilância do Câncer da IARC.
“Apesar dos progressos realizados na detecção precoce do câncer, no tratamento e cuidados aos pacientes oncológicos, existem disparidades significativas nos resultados do tratamento não apenas entre regiões de alta e baixa renda no mundo, mas também dentro dos países. O local onde alguém mora não deve determinar se ela vive. Existem ferramentas para permitir que os governos priorizem os cuidados oncológicos e para garantir que todos tenham acesso a serviços de qualidade e a preços acessíveis. Esta não é apenas uma questão de recursos, mas uma questão de vontade política”, continua Cary Adams, chefe da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC).
Casos em 2022
Segundo as novas estimativas, em 2022 foram registrados 22 milhões de novos casos de câncer e 9,7 milhões de mortes. O número de pacientes vivos nos cinco anos seguintes a um diagnóstico foi de 53,5 milhões. De acordo com a IARC, cerca de 1 em cada 5 pessoas desenvolverá a doença durante a vida, e aproximadamente 1 em 9 homens, e 1 em 12 mulheres, morrerão por causa dela.
Os dados da agência revelam ainda que 10 tipos de câncer respondem por cerca de dois terços de todos os novos casos e mortes a nível mundial. Os dados abrangem 185 países e 36 tipos da doença.
O câncer de pulmão foi o mais comum, com 2,5 milhões de novos casos – 12,4% do total. O de mama feminino ficou em segundo lugar, com 2,3 milhões de casos, o que representa 11,6%, seguido pelo câncer colorretal (1,9 milhões de casos, 9,6%); câncer de próstata (1,5 milhões de casos, 7,3%) e câncer de estômago (970 mil casos, 4,9%).
A doença no pulmão também foi a principal causa de morte: 1,8 milhão, 18,7% do total. Em seguida, veio o câncer colorretal (900 mil mortes, 9,3%); câncer de fígado (760 mil mortes, 7,8%); câncer de mama (670 mil mortes, 6,9%) e câncer de estômago (660 mil mortes, 6,8%).
Entre os gêneros, houve algumas diferenças. Para as mulheres, os três cânceres mais comum e que mais causaram óbitos foram, respectivamente, os de mama, de pulmão e colorretal. Para os homens, o câncer de pulmão foi o mais incidente, seguido pelo de próstata e o colorretal. Em relação às mortes, o de fígado e o colorretal foram a segunda e a terceira causas mais comuns.
Fonte: O Globo/Bernardo Yoneshigue