Diretor de ‘Roma’, Cuarón quis falar de cicatrizes compartilhadas

Roma” abre com uma longa cena em que o quintal de um casarão é ensaboado. Por minutos a fio, a água cheia de bolhas se avoluma no chão azulejado e aos poucos vai escoando pelo ralo.

A vagareza está a serviço de uma proposta artística. O cineasta Alfonso Cuarón quer mergulhar o público no cotidiano modorrento de Cleo, a empregada indígena que vive no casarão dos patrões brancos, uma família abastada da Cidade do México.

É irônico que essa mesma proposta estética, plena na sala de cinema, será desfrutada na maioria em televisões, computadores e smartphones, estando o espectador em pleno poder de dar o “pause” e quebrar a experiência. Pois é na Netflix que foi parar esse que é talvez o longa mais paparicado do segundo semestre.

Para o diretor, contudo, essa é uma discussão que faria sentido com “Gravidade”, seu blockbuster anterior, e não com “Roma”. 

“Um filme mexicano, em preto e branco e falado em espanhol jamais teria a distribuição que ele está tendo agora”, diz Cuarón à reportagem, por telefone, um dia depois de o longa ser selecionado entre os finalistas para o Oscar. Ele se refere ao fato de a Netflix ter programado “Roma” em várias salas de cinemas para habilitá-lo a concorrer ao prêmio. Só no México foram mais de 40 os lugares. O fuzuê, alimentado pela vitória no último Festival de Veneza, também ajudou a gigante do streaming a programá-lo em salas de São Paulo e Rio de Janeiro (com sessões esgotadas).

Trata-se do projeto mais pessoal do cineasta mexicano e um retorno ao seu país de origem depois de grandes produções como “Gravidade”, “Filhos da Esperança” e o terceiro “Harry Potter.” “Não faria se não tivesse essa vivência em Hollywood”, diz.

“Eu precisava me reconectar às minhas raízes e, para falar de quem sou, teria de falar de onde venho.”

Fonte: notícias ao minuto