Grafiteiros do Cariri mostram representatividade LGBTQ em festival de arte urbana em Fortaleza

Por Thayná Facó

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Formado pelos artistas visuais Caju, Charles Lessa e Gabriel Indjo, o coletivo do Cariri “Bixaskipixa” chega à capital cearense com a intenção de ocupar as ruas com imagens não estereotipadas sobre o “ser bicha no interior do estado. Convidados do Festival Concreto de Arte Urbana, que acontece até o dia 9 de novembro, eles estão pintando um mural no início da Vila São Longuinhos, na Praia de Iracema, em Fortaleza.

De maneira despretensiosa, o grupo surgiu no início de 2018, quando pintaram juntos um muro na Colina do Horto, em Juazeiro do Norte. Ao finalizarem, Charles assinou “Bixaskipixa” e o coletivo nasceu naquele momento, visando “se inserir no circuito da arte urbana, um meio que é extremamente heteronormativo”, como afirma.

Recepção positiva

Vilda Carvalho tem 73 anos e é a dona da casa na qual o coletivo tem produzido. A moradora dispôs seu muro para o festival e declara ter ficado muito satisfeita com o trabalho, tanto do Concreto, quanto do “Bixaskipixa”. “Trabalho maravilhoso e que, até agora, não tinha chegado nessa parte da Praia de Iracema.”

Os moradores da região também têm se mostrado acolhedores, auxiliando os artistas no armazenamento de material e com alimentação. “Eles tão sendo mesmo muito receptivos e é muito massa se sentir acolhido nesse âmbito, porque normalmente espera-se que seja aquela reação adversa”, contam os pintores.

Porém, deixam claro o seu propósito: “É pelos nossos corpos estarem assumindo esse lugar de poder, porque no dia a dia o que a gente ouve, geralmente, são piadas homofóbicas e falta de respeito.”

Linguagem artística

Apesar de trabalharem coletivamente há quase dois anos, a trajetória individual dos artistas tem muito mais tempo. Desde a infância, o contato com o desenho esteve presente. Porém, suas produções acabaram se aperfeiçoando quando os jovens tiveram uma maior aproximação com a arte urbana e com eles mesmos.

“Entendo o meu fazer como um fazer artesanal. Eu prezo por isso de fazer com as mãos e é de onde eu banco meu rolê. Sou artista profissional, eu mesmo que assino minha carteira”, diz Charles Lessa.

Neste mês de novembro, o “Bixaskipixa” está participando, pela primeira vez como grupo, da sexta edição do Festival Concreto, projeto que procura trazer essa arte marginalizada para a centralidade, por meio de exposições, intervenções, oficinas e palestras com grafiteiros nacionais e internacionais.

Charles, que já havia participado individualmente na edição de 2017 do festival, afirma que a experiência de estar em coletivo traz muito mais força e liberdade para o movimento. “Estou me sentindo mais livre, mais espontânea, inclusive até para usar o artigo no feminino, usar meu chapéu rosa. Não ficar me prendendo em ser o que sou”, conta. E Caju complementa: “A gente é a primeira crew (equipe, grupo) de bichas no Concreto. E eu acho muito importante isso porque a gente tá na rua, fazendo arte todos os dias”.

Com formas corporais diversas e cores intensas, o coletivo está no processo de montagem de um mural que reúne os diferentes estilos dos artistas em um mesmo objetivo: a desconstrução. “O que a gente pretende com nosso trabalho é a diversidade, tanto no ato da gente pintando, quanto na pintura que vai ficar depois. A gente faz imagens mais parecidas com os seres humanos mesmo. Os corpos, os rostos, as deformidades, enfim, tudo o que o ser humano tem de verdade”, explica Gabriel.

O trabalho “carrega a poética de cada uma”, como elucida Charles. Ao mesclar suas figuras pop com as referências afroindígenas de Gabriel Indjo e a abordagem étnica-urbana de Caju, eles buscam fazer com que suas linguagens e personas interajam entre si.

Ao explicarem o conceito do mais recente projeto, instigam uma reflexão bastante atual: “É uma construção que surge coletiva e depois a gente vai enxergando narrativas dentro daquele layout que a gente criou. Essa do Concreto, por exemplo, é o surgimento de uma deusa indígena, representada por essa figura centralizada, e as outras duas representam esses seres conservadores que ainda existem nesse planeta. Às vezes, acho que a arte é até bem literal”.

Serviço

Festival Concreto #6 – Festival Internacional da Arte Urbana

Até 9 de novembro, em Fortaleza

www.festivalconcreto.com.br

Fonte: g1.com

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