Relatório de projeto sobre ‘orçamento secreto’ propõe limite de recursos para emendas

O senador Marcelo Castro (MDB-PI) apresentou nesta segunda-feira (29) relatório ao projeto que cria regramentos para as emendas de relator, que ficaram conhecidas como “orçamento secreto”.

No parecer, Castro propõe que essa verba tenha um valor limite, que deve ser calculado de maneira que não ultrapasse a soma das emendas de bancada e as individuais. Atualmente, não é estabelecido nenhum “teto” para o valor das emendas de relator.

“Entendemos necessário indicar que a atuação do relator-geral unilateralmente não deve ser superior à soma da participação dos parlamentares e das bancadas estaduais. Vale destacar, por conseguinte, que por se tratar de limite máximo, tanto o relator-geral como o Plenário da CMO poderão decidir a cada ano por valores inferiores ao agora fixado”, escreve Castro no relatório.

Em 2021, o montante reservado para emendas do relator era inicialmente de R$ 30,1 bilhões. No entanto, houve cortes no orçamento, e a dotação atualizada prevê uma liberação de R$ 16,8 bilhões para esse tipo de recurso.

Isso significa que esse dinheiro poderá ser destinado à base política de um parlamentar sem que o autor do repasse seja identificado. O relatório de Castro deve ser votado por deputados e senadores nesta segunda, durante sessão do Congresso Nacional.

Na última quinta-feira (25), a Câmara e o Senado divulgaram um ato conjunto com a promessa de dar mais transparência às emendas de relator. A proposta, porém, abre as informações apenas para as emendas futuras. Dados relativos a 2020 e 2021, conforme o texto, seguirão sob sigilo (leia mais abaixo).

A medida foi editada após o Supremo Tribunal Federal (STF) suspender a execução das emendas de relator e determinar que o governo e o Congresso adotem medidas de transparência quanto à liberação das verbas.

Ao contrário das emendas individuais, que seguem critérios bem específicos e são divididas de forma equilibrada entre todos os parlamentares, as emendas de relator não seguem critérios usuais e beneficiam somente alguns deputados e senadores.

Na prática, a destinação dos recursos é definida em acertos informais entre parlamentares aliados e o governo federal. Por isso, esses repasses são alvo de críticas de especialistas.

Ato conjunto

A proposta da Câmara e do Senado determina que as emendas de relator devem especificar “os limites financeiros e o rol de políticas públicas passível de ser objeto de emendas”.

O texto também define que as indicações e as solicitações que fundamentaram as emendas serão publicadas no site da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e encaminhadas ao poder Executivo.

Ainda conforme o ato, as indicações somente poderão ser feitas “quando compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias, e estiverem de acordo com a política pública a ser atendida”.

A medida, por outro lado, aponta para a “não exigência” e a “inexistência” de lei que determinaria o registro formal das emendas de relator e afirma que há uma “impossibilidade fática” de se estabelecer, de maneira retroativa, um procedimento para registro das demandas já realizadas.

Dessa forma, o ato mantém sob sigilo a autoria dos parlamentares que fizeram as indicações anteriores.

A proposta ainda expõe que há um risco “grave, iminente e irreparável” caso permaneça interrompida a execução das emendas de relator até o fim de 2021, com destaque para R$ 7,5 bilhões relacionados à Saúde e R$ 5,7 bilhões ao Desenvolvimento Regional. Pelo texto, serão afetados serviços e obras empenhados ou em andamento, e também haverá desperdício de recursos públicos decorrentes de sua paralisação.

Fonte: G1