Leila Maria é uma das grandes cantoras do Brasil para qual o Brasil insiste em tapar os ouvidos. Desde 1997, ano em que apresentou o primeiro álbum, Da cabeça aos pés, a cantora carioca ensaia um grande salto na carreira que, a rigor, nunca aconteceu.
Em que pese o prestígio obtido pela artista com álbuns como Off key (2004), Leila Maria tem a voz apreciada sobretudo no meio musical por gente que detecta o raro dom para o canto desta intérprete que domina inclusive o idioma do jazz, como reiterou no primoroso álbum anterior, Holiday in Rio – Leila Maria canta Billie.
Com singular abordagem do repertório da cantora norte-americana de jazz Billie Holiday (1915 – 1959), esse disco anterior foi gravado em 2012 e efetivamente editado em 2015 pela mesma gravadora, a Biscoito Fino, que ora põe no mercado fonográfico o quinto álbum de Leila, Tempo, disponível neste mês de novembro de 2018 em CD e em edição digital.
Capa do álbum ‘Tempo’, de Leila Maria — Foto: Ilustração de Raimundo Farias
Tempo se conecta com o álbum de estreia de Leila, Da cabeça aos pés, por ser cantado em português e por ter repertório parcialmente autoral.
Sozinha, Leila assina composições inéditas como Caravançará, Os olhos de Alice, Resgate e Tempo de rio. Em parceria com o pianista Rodrigo Braga, produtor e arranjador do disco, Leila assina Personas, desenvolvendo relação musical iniciada em 2002.
Tempo não é álbum de jazz no sentido ortodoxo do termo. Mas é disco pautado pelo tempo particular de músicas que parecem feitas para cantora e músico exercitarem a fina sintonia entre ambos, como exemplifica a gravação da Valsa do tempo, música de autoria de Rodrigo Braga que abre o disco com o verso-sentença “O importante é que com o tempo se aprende a dançar”.
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Leila Maria canta músicas autorais em português no álbum ‘Tempo’, produzido pelo pianista Rodrigo Braga — Foto: Divulgação / Nana Moraes
Com o toque polivalente de Rodrigo Braga, músico que pilota vários instrumentos ao longo das 10 músicas do álbum, Leila Maria divaga sobre o tempo em parte desse repertório inédito.
“E se o tempo de alguém já passou / É que o tempo de alguém vai chegar”, resigna-se Leila Maria em versos de Mar desconhecido, faixa aditivada com a intervenção vocal feita quase na batida do rap por Tiago Mocotó, parceiro de Marcos Oliva na composição da música.
Também fora da seara autoral, a cantora dá voz a Poeira e solidão(1975), música de Sueli Costa, compositora creditada erroneamente como Suely Costa no encarte da edição em CD.
Com o álbum Tempo, Leila Maria dificilmente dará o grande salto na carreira a que sempre fez jus pelo canto extraordinariamente inteligente. Mas tampouco parece almejar esse salto, a julgar pelas escolhas feitas neste álbum gestado cronologicamente antes do disco com as músicas de Billie Holiday.
Leila Maria aprendeu a dançar com o tempo…
— Foto: Editoria de Arte / G1
Fonte: G1