Hamilton de Holanda leva obra de Jacob do Bandolim para outros universos em discos que vão além da celebração subserviente

Hamilton de Holanda Vasconcelos Neto expõe a obra de Jacob Pick Bittencourt (14 de fevereiro de 1918 – 13 de agosto de 1969) em vários tons ao longo dos quatro álbuns embalados na caixa Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim.

Recém-posta no mercado fonográfico pela gravadora Deck, com edições em CD desses quatro discos já paulatinamente disponibilizados nas plataformas digitais, a caixa foi idealizada para celebrar o centenário de nascimento deste extraordinário compositor e bandolinista carioca, um dos pilares do choro.

Capa da caixa de CDs 'Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim' — Foto: Rafaê SilvaCapa da caixa de CDs 'Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim' — Foto: Rafaê Silva

Capa da caixa de CDs ‘Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim’ — Foto: Rafaê Silva

É uma homenagem, sim, mas Hamilton – bandolinista de origem também carioca, mas vivência brasiliense – jamais se porta como um discípulo excessivamente reverente a Jacob na linha “ao mestre, com carinho”.

Há devoção ao solista antecessor, mas sem ranço nostálgico da parte desse herdeiro virtuoso, de versatilidade comprovada nos toques dos quatro registros do choro Assanhado (Jacob do Bandolim, 1961) inseridos nos quatro álbuns.

Em bom português, o choro é tema recorrente nos repertórios dos quatro discos, mas ganha tons particulares em cada um deles, como prova da diversidade de matizes que diferencia um disco do outro. Elo mais forte entre os dois músicos, o choro é transportado para outros universos.

Capa do álbum 'Jacob 10ZZ', primeiro título do lote da caixa — Foto: Divulgação / DeckCapa do álbum 'Jacob 10ZZ', primeiro título do lote da caixa — Foto: Divulgação / Deck

Capa do álbum ‘Jacob 10ZZ’, primeiro título do lote da caixa — Foto: Divulgação / Deck

Primeiro disco do lote, Jacob 10ZZ passa o choro pelo filtro largo do jazz, como já sinaliza o título. O álbum é creditado ao Hamilton de Holanda Trio, formado pelo bandolinista com os músicos Guto Wirtti (contrabaixo acústico) e Thiago da Serrinha (percussão).

Segundo título da série, Jacob bossa é assinado por Hamilton com o Trio Mundo, formado pelo bandolinista com Marcelo Caldi (no piano e no acordeom) e Guto Wirtti (no contrabaixo acústico). O termo bossa, no caso, deve ser interpretado como suingue.

Não é um disco na linha “Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim em bossa nova”, como o ouvinte pode ser erroneamente induzido a pensar por conta do título. O bandolinista cai no suingue – que pode ser o do toque do ijexá ou o da cadência do bolero, como ressalta Henrique Cazes no texto que escreveu para o encarte inserido na caixa de CDs – à moda brasileira, mas sem fronteiras.

Capa do álbum 'Jacob baby', direcionado ao público infantil por Hamilton de Holanda — Foto: Divulgação / DeckCapa do álbum 'Jacob baby', direcionado ao público infantil por Hamilton de Holanda — Foto: Divulgação / Deck

Capa do álbum ‘Jacob baby’, direcionado ao público infantil por Hamilton de Holanda — Foto: Divulgação / Deck

Terceiro título do lote, Jacob black é creditado somente a Hamilton. Mas é com o toque afro do violão de Rafael dos Anjos e das percussões de Thiago da Serrinha (também bandolinista) e Luiz Augusto que Hamilton traz Jacob para o terreno afro-brasileiro, pilar da percussiva música blacknativa. É como se Jacob do Bandolim recebesse abraço de Baden Powell (1937 – 2000) através de Hamilton.

Quarto título da série, Jacob baby é dedicado em tese ao público infantil. Mas é como gente grande que Hamilton toca Jacob em tempo de delicadeza que evoca sons de caixinha de música na harmônica junção do bandolim com o cavaquinho e o bouzouki, instrumento de origem negra, fazendo com que choros como Doce de coco (1951) ganhem outro sabor.

É o gosto da liberdade com que Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim nestes discos que extrapolam o tom da celebração subserviente. (Cotação: * * * *)

 — Foto: Editoria de Arte / G1 — Foto: Editoria de Arte / G1

— Foto: Editoria de Arte / G1

Fonte: G1