Um dos órgãos mais importantes do corpo humano, o fígado é responsável por funções como filtragem do sangue para eliminação de impurezas, produção de proteínas e regulação do metabolismo. Porém, seu funcionamento pode ser gravemente afetado por infecções como as hepatites virais, principalmente quando o diagnóstico e o tratamento demoram a ser realizados.
O diagnóstico das hepatites virais é feito por meio de exames simples de sangue que podem ser feitos nas unidades básicas de saúde (UBS). Todo indivíduo acima de 40 anos, independente de sintoma ou não, deve realizar testes para rastreio de hepatites B e C anualmente. A prevenção da hepatite B é feita por meio da vacinação, disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e indicada para todos, independente da faixa etária. Para a Hepatite C, não há vacina, apenas tratamento. Para se prevenir, é preciso evitar relações sexuais sem preservativo e o compartilhamento de objetos perfurocortantes.
Em hospitais de alta complexidade, como o Hospital Regional do Cariri (HRC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), pacientes com quadros graves de hepatite recebem atendimento especializado. A médica infectologista do HRC, Séfora Pascoal, explica os principais tipos de hepatites virais, os sintomas e as consequências da evolução da doença.
Confira a entrevista
Quais os principais tipos de hepatites virais e quais os sintomas?
Séfora Pascoal: As hepatites virais de maior importância clínica são as hepatites A, B e C. Elas podem se apresentar inicialmente com um quadro agudo mais evidente, que pode levar o paciente a procurar ajuda médica. Os sintomas mais comuns são icterícia (pele e olhos amarelados), urina escurecida, náuseas, vômitos, fraqueza, febre. E esse quadro pode levar o paciente à internação hospitalar. Na maioria dos casos o paciente se recupera bem com suporte clínico e uso de antivirais.
Quais os riscos do diagnóstico tardio, principalmente nas hepatites B e C?
S.P.: A hepatite B e a hepatite C têm potencial de se tornarem crônicas. No caso da hepatite B, cerca de 10% dos pacientes evoluem para a forma crônica. Quando isso acontece e não há diagnóstico e tratamento, a infecção pode levar a cirrose, insuficiência hepática ou câncer de fígado. Esses são quadros clínicos graves que podem exigir suporte hospitalar intensivo e até transplante hepático, dependendo do estágio da doença.
O que acontece no organismo quando a doença se desenvolve sem tratamento?
S.P.: As hepatites virais são vírus com grande afinidade pelas células do fígado. Eles causam uma destruição progressiva dessas células, o que leva o órgão a perder sua função ao longo do tempo. Como o fígado é responsável por depurar as impurezas do organismo, sua falência causa o acúmulo de toxinas nos tecidos. Isso pode provocar encefalopatia hepática, icterícia intensa, escurecimento da urina e diversos outros sintomas, caracterizando um quadro de insuficiência hepática.
Como é feito o tratamento em caso de internamento hospitalar?
S.P.: Nos casos em que o paciente já apresenta um quadro grave, com ascite (acúmulo de líquido no abdômen), icterícia e sinais de falência hepática, é preciso investigar a causa. Se for uma hepatite B ou C, é possível iniciar o tratamento medicamentoso, disponível gratuitamente no SUS. No ambiente hospitalar há suporte clínico, com compensação hemodinâmica, controle de infecções bacterianas associadas e também a avaliação para que o paciente entre numa fila de transplante hepático, a depender do caso.
Existe cura para as hepatites virais?
S.P.: A hepatite A tem cura. Ela é autolimitada e não se torna crônica, ou seja, quando passa o período de infecção a pessoa fica boa. A hepatite C também é totalmente curável com os antivirais disponíveis atualmente. Porém, pode se tornar crônica. Por isso, é fundamental que o diagnóstico seja feito precocemente, antes que a doença evolua para formas mais graves. Já a hepatite B, na maioria dos casos, não tem cura, mas tem controle. O tratamento permite estabilizar a doença e evitar complicações. Além disso, a vacinação contra as hepatites A e B é uma forma eficaz de prevenção e está disponível gratuitamente na rede pública.
Qual a importância da campanha Julho Amarelo para prevenir casos graves de hepatites virais?
S.P.: O principal objetivo da campanha é que as pessoas consigam testar, identificar de uma forma mais precoce, para que possa ser estabelecido o diagnóstico e o tratamento. Mostrar para a população que o principal é a prevenção, o cuidado e o tratamento, e saber que todos nós, independente de classe social, de orientação sexual, estamos suscetíveis a ter uma infecção como essa.
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