A decisão do Fortaleza Esporte Clube de encerrar o futebol feminino a partir de 2026 vai muito além de um corte administrativo ou de uma justificativa financeira. Ela escancara uma realidade antiga e persistente: quando o esporte entra em crise, são as mulheres as primeiras a perder espaço.
O mais simbólico,e contraditório, é que o time feminino do Fortaleza vivia um de seus melhores momentos. Conquistas recentes, crescimento técnico e visibilidade nacional mostravam que o projeto não era apenas viável, mas promissor. Ainda assim, foi tratado como algo descartável. Como se o futebol praticado por mulheres fosse um “extra”, e não parte essencial da identidade esportiva do clube.
Essa lógica não é exclusiva do Fortaleza. Ela se repete em clubes, federações e estruturas esportivas pelo mundo. O futebol masculino é visto como prioridade absoluta, enquanto o feminino precisa, o tempo todo, provar que merece existir. Mesmo quando vence, mesmo quando dá retorno esportivo e simbólico, ainda é o primeiro a ser colocado de lado.
Mas a exclusão não atinge apenas as atletas. Mulheres jornalistas esportivas enfrentam descrédito diário, precisam justificar sua presença em redações e cabines de transmissão. Torcedoras seguem sendo tratadas como exceção, como se não fossem parte legítima das arquibancadas. O mesmo acontece com fãs de outros esportes, como a Fórmula 1, onde mulheres que são a maioria do público agora, ainda são constantemente questionadas sobre seu conhecimento, sua paixão e seu lugar.
O esporte, historicamente, foi construído como um espaço masculino. E toda vez que um projeto feminino é encerrado, a mensagem que fica é clara: o espaço das mulheres ainda é frágil, condicionado e provisório. Basta uma crise financeira, uma mudança de gestão ou um mau momento esportivo para que esse espaço seja reduzido ou eliminado. Simone de Beauvoir ja dizia
“Nunca esqueçam que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Vocês terão que manter a vigilância durante toda a vida.”
A saída do futebol feminino do Fortaleza não é apenas sobre orçamento. É sobre prioridade. É sobre escolhas. É sobre o quanto o esporte ainda falha em enxergar mulheres, seja elas atletas, jornalistas ou torcedora, como parte central dessa engrenagem.
O esporte feminino como um todo não precisa de discursos vazios ou apoio apenas em datas simbólicas. Precisa de compromisso real, planejamento e continuidade. Porque enquanto ele for tratado como algo opcional, as mulheres continuarão pagando o preço da desigualdade.
Mais do que lamentar a decisão, é preciso questioná-la. E, principalmente, entender o que ela representa: um alerta de que a luta por espaço, respeito e permanência no esporte ainda está muito longe de acabar.
Texto: Lorhane Santos










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