A COP30 acontece em Belém, capital do Pará, entre 10 e 21 de novembro deste ano – colocando nosso país e a maneira como lidamos com nossos biomas em destaque.
A cúpula traz a oportunidade de que o Brasil se destaque com suas políticas ambientais, dentre elas as iniciativas de reflorestamento e restauração florestal.
Embora sejam similares, o reflorestamento e a restauração florestal são coisas distintas: enquanto o primeiro consiste apenas no plantio de árvores, que podem ser nativas ou exóticas ao local, o segundo busca restaurar o ecossistema florestal com vegetação nativa da área que foi degradada.
Segundo relatórios produzidos pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) e analisados pela CNN, zerar o desmatamento nos biomas brasileiros se consolida como a medida mais importante para que o país consiga frear suas emissões e cumprir com as metas do Acordo de Paris dentro do prazo.
A restauração florestal também ocupa um papel importante nessa missão.
Conforme explicou Carlos Nobre, professor do Instituto de Estudos Avançados da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia: “Os projetos de reflorestamento são para combater um elemento claro da emergência climática, remover o gás carbônico da atmosfera, o principal gás do aquecimento global. Mas eles também são essenciais para impedir a chegada ao ponto de não retorno na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal, na Caatinga.”
O “ponto de não retorno” é uma expressão que se refere a um limite crítico de desmatamento de um bioma, no qual a vegetação nativa não seria mais capaz de se regenerar naturalmente, levando ao colapso daquele ecossistema, que deixaria de existir da maneira como o conhecemos.
“Então [a restauração florestal] é essencial para combater a emergência climática, mas também para proteger toda a biodiversidade do país que tem a maior biodiversidade do mundo”, acrescentou Nobre.
Os projetos brasileiros e o mercado de carbono
Já existem projetos ambiciosos de restauração florestal em vários biomas brasileiros, desde iniciativas públicas, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), iniciativas de empresas que recebem financiamento do BNDES, e iniciativas 100% privadas.
Esses projetos, no entanto, ainda se encontram em estágios iniciais de realização.
Segundo Leonardo Sobral, diretor da área de Florestas do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), a restauração florestal é um mercado em crescimento no nosso país.
“No Acordo de Paris, o Brasil assumiu o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares e isso impulsionou o setor de restauração”, falou Sobral.
Uma das principais formas de financiar esses projetos é através do mercado de créditos de carbono, regulamentado no Brasil desde o final do ano passado, que permite que empresas compensem suas emissões de carbono excedentes ao comprar créditos gerados através de iniciativas verdes, como recuperação florestal e transição energética.
Essas empresas privadas muitas vezes precisam comprar créditos de carbono para se adaptar às novas leis de combate à mudança climática adotadas por seus países, e esse dinheiro pode ser usado para que o Brasil restaure suas florestas e seus biomas. Afinal, esse processo também é essencial para que nosso país cumpra suas próprias metas de redução de emissões.
“O principal desafio está ligado à rentabilidade e à necessidade de incentivos financeiros para a restauração florestal. Os processos de restauração precisam ter maior valor social, ecológico e também financeiro, para que possam atrair mais investimentos e interesse de produtores rurais”, disse Sobral.
Para Carlos Nobre, também é preciso que o agronegócio e a indústria pecuária de nosso país percebam a importância e a responsabilidade global do Brasil perante às mudanças climáticas.
“Um grande desafio é esse: convencer o agronegócio a parar de querer expandir as suas áreas. A seguir no caminho de zerar o desmatamento e a degradação, a partir para a pecuária e a agricultura regenerativa”, falou Nobre.
Segundo ele, caso esse setor insista em querer expandir suas áreas e vire as costas para a restauração, estaremos caminhando para um “suicídio ecológico do Brasil e do mundo”.
Por Fernanda Pinotti, da CNN
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