Especialistas explicam transtornos mentais causados pelo álcool; droga é lícita, mas pode causar dependência

Foto: Reprodução/Freepik

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“Eu bebia quase todos os dias, ficava irritado, sem paciência, com pouca memória, percebi que estava piorando cada dia mais”. O relato é do jardineiro F.A.S, de 58 anos, que realiza tratamento contra o alcoolismo no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), há cinco meses. Ele revela que buscou o serviço por sentir que não podia mais continuar como estava. “Minha família também me pressionou para buscar ajuda e isso foi muito importante ter acontecido, pois eu não conseguia mais parar de beber sozinho”, diz.

Apesar de o álcool ser lícito no Brasil e presente em grande parte do dia a dia da população, com consumo relacionado, geralmente, a momentos de diversão, como confraternizações, eventos e festas, seu uso em excesso pode se transformar em um grande problema social e de saúde. Na emergência do HSM, 962 pacientes foram atendidos, em 2023, com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool.

De acordo com o psiquiatra da unidade, Helder Gomes, há riscos que podem trazer sintomas clínicos ou psiquiátricos, pois a substância é relacionada à dependência. “Para as pessoas que bebem há anos, em quantidades cada vez maiores, podemos encontrar uma síndrome de abstinência ao reduzir a quantidade ou interromper o uso, com sintomas como irritabilidade, inquietação, tremores e ansiedade”, explica.

O especialista alerta para os cuidados com um possível quadro de intoxicação ou coma alcoólico que pode trazer risco de morte. “O álcool pode ser consumido de forma recreativa e social, mas há um limite e é importante ter consciência disso. Para homens, é bem estabelecido um padrão de uso abusivo, que envolve um consumo de mais de cinco doses de destilado ou cinco latas de cerveja, por exemplo. Para as mulheres é estabelecido um limite acima de quatro doses de destilado ou quatro latas de cerveja. Acima disso, aumenta a possibilidade de eventos adversos tanto clínicos quanto psiquiátricos”, diz.

Pacientes do HSM são atendidos por equipe multidisciplinar para tratar dependência de álcool

Transtornos relacionados ao uso de álcool

O psiquiatra relata que a dependência de álcool pode estar relacionada a patologias psiquiátricas como depressão e ansiedade, que são os quadros psiquiátricos mais comuns. “Muitas pessoas com transtornos psiquiátricos acabam usando o álcool como refúgio e alívio de angústias internas. É bem estabelecido nos estudos que pacientes que são dependentes de álcool têm uma maior taxa de problemas psiquiátricos e clínicos. Chama a atenção quando percebemos que uma parcela significativa das tentativas de suicídio ocorre quando a pessoa está sob o efeito de álcool. Além disso, há uma criminalidade associada”, observa.

Segundo o médico, a pessoa com transtorno relacionado ao uso de bebida alcoólica pode apresentar síndrome de abstinência, dependência e uso abusivo. “Temos medicamentos que auxiliam o paciente que passa por um período de abstinência, para que os sintomas sejam mais brandos. Temos também medicamentos que diminuem o desejo do consumo de álcool. Portanto, se você é um paciente que tem dificuldade de abandonar o álcool que se encontra nessa situação listada, procure um atendimento tanto de um psiquiatra quanto de um psicólogo”, recomenda Gomes.

Onde buscar ajuda

No HSM, dois serviços especializados acolhem e acompanham dependentes químicos. Um deles é a Unidade de Desintoxicação, que atende pessoas que desejam, de forma voluntária, tratar a dependência de álcool e de outras drogas. Ao dar entrada no hospital, o paciente é acolhido pela equipe de Enfermagem e recebe a orientação de não fumar e de conviver pacificamente durante a internação inicial, de 15 dias. A assistência é realizada por psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. O tratamento inclui uso de medicamentos e psicoterapia, além de rodas de conversa, leituras, reflexões, terapias em grupo e individuais.

O outro serviço é o Hospital-Dia – Elo de Vida, no qual, após a desintoxicação, o paciente é reabilitado em termos de interação social para evitar o contato com as substâncias. No Elo de Vida, o paciente pode seguir com o tratamento dando continuidade ao processo da abstinência após a desintoxicação, possibilitando mudanças de hábitos a partir de um projeto de vida sem o uso de substâncias psicoativas. O atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.

O jardineiro F.A.S comemora a mudança de vida que se iniciou com a adesão ao tratamento. “Fiquei internado 15 dias na Unidade de Desintoxicação e depois fui acolhido pelo Elo de Vida, onde estou prestes a receber alta. Já me sinto um novo homem, com muitos sonhos e projetos a conquistar”, diz.

O paciente F.A.S, de 58 anos, realiza tratamento há cinco meses no Elo de Vida e já está aguardando receber alta para voltar ao convívio familiar e social

No serviço, os pacientes aprendem a manter a abstinência e a conviver com os colegas por meio de atividades cognitivas e sociais. O psiquiatra do Elo de Vida, Arão Zvi Pliacekos, alerta para a importância de evitar ações ou situações que possibilitem o uso das substâncias relacionadas ao vício. “É necessário evitar qualquer gatilho para não estimular uma cronicidade do hábito, além de estabelecer uma troca de diálogo e uma compreensão de que é necessário encerrar o uso dessa droga”, ressalta.

O período de tratamento no Hospital-Dia – Elo de Vida dura, em média, cinco meses, podendo ser prorrogado por decisão da equipe. Ao fim deste período, se houver necessidade, o paciente é encaminhado para acompanhamento ambulatorial ou para os grupos de mútua ajuda, como Alcoólicos Anônimos (AA) ou Narcóticos Anônimos (NA).

Serviço:

Emergência 24h
Unidade de Desintoxicação e Hospital-Dia – Elo de Vida
Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto
Rua Vicente Nobre de Macedo, S/N – Messejana – Fortaleza – CE
Contato: (85) 3101-4348

Fonte: Ascom HSM/Milena Fernandes

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