Inflação no Brasil deve fechar ano maior que a de 83% dos países

Foto: Reprodução/Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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A inflação é um problema global – mas não é igual no mundo todo. No Brasil, ela deve encerrar o ano maior que a de 83% dos países, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Os dados utilizados pelo estudo do Ibre foram colhidos do último relatório “World Economic Outlook”, elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e divulgado na semana passada – e que alertou para os riscos da alta generalizada de preços.

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem afirmado que a alta da inflação é um fenômeno global, e que o Brasil não estaria fora do ‘padrão’.

“Países que tinham zero [de inflação], agora estão em 4%, 5%. Países que tinham 4%, 5%, agora estão em 8%, 9%. Isso acontece, mas tem de haver resposta política”, afirmou ele no início deste mês.
Os dados mostram, no entanto, que o patamar de inflação por aqui supera – em muito – o visto na maior parte do exterior. E, segundo o diretor do Banco Central Bruno Serra, está em um “nível muito elevado” até para o Brasil, acostumado com pressão sobre os preços.

Estimativas

A estimativa do FMI é a que a inflação brasileira encerre o ano em 7,9% – no acumulado de 12 meses até setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25%. Se a projeção do fundo se confirmar, o Brasil vai registrar uma inflação bem acima da apurada entre os países emergentes (5,8%) e também da média mundial (4,8%).

Todos os anos, nos meses de abril e outubro, o FMI atualiza as suas projeções para diversos indicadores macroeconômicos, como inflação, Produto Interno Bruto (PIB) e investimento, para um grupo de quase 200 países.

O levantamento deixa evidente que a piora da inflação tem sido mais intensa no Brasil que no restante do mundo. No relatório de outubro do ano passado, por exemplo, a previsão era que a nossa economia teria uma inflação maior que a de 57% dos países. No relatório de abril, esse patamar subiu para 70%. E agora está em 83%.

“O que agrava a situação do Brasil é a nossa moeda, que segue desvalorizando mais do que a média das outras divisas”, afirma André Braz, pesquisador do Ibre.

A previsão do FMI para a inflação brasileira pode ser considerada conservadora. No relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, os analistas consultados estimam um IPCA de 8,69% para 2021. Nesse cenário, a alta de preços no Brasil supera a de 86% das nações.

Inflação é problema global

Quase todos os países passaram a lidar com uma alta de preços mais intensa neste ano.

Com a retomada da economia, depois de superada a fase mais aguda da pandemia, a cotação das commodities subiu e se somou ao desarranjo nas cadeias de produção – a crise sanitária paralisou ou reduziu a produção em muitos setores industriais. Essa interrupção provocou uma escassez de produtos, pressionando os custos em todo o mundo.

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“O mundo está se recuperando mais rapidamente por causa dos estímulos fiscais adotados pelas grandes economias. São investimentos importantes para aquecer a atividade”, afirma Braz. “Mas o efeito colateral desse aquecimento rápido é uma busca muito grande por recursos de commodities, como petróleo e carvão.”

A piora do quadro inflacionário em todo o mundo fica evidente no aumento das projeções do FMI – entre os relatórios de outubro de 2020 e deste ano. Aqui, também fica claro que a disparada da inflação no Brasil foi mais intensa do que no restante dos países.

Por que no Brasil é pior?

Desde o ano passado, a inflação brasileira passou a ser pressionada pela alta dos preços dos alimentos, resultado justamente da valorização das commodities.

Em tese, a alta das commodities deveria fazer com que o real se valorizasse em relação ao dólar, ajudando no combate à inflação. Isso porque o Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como soja e milho. Portanto, a entrada de dólares no país deveria fortalecer a moeda brasileira. Mas esse cenário não tem se confirmado: o real segue desvalorizado diante das incertezas nas áreas fiscal e política.

“A causa para a taxa de câmbio apreciar em vez de depreciar foi provocada pela crise institucional e por um certo flerte com a irresponsabilidade fiscal”, afirma Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital e ex-diretor do BC. “Essas duas incertezas geraram uma percepção de risco dos investidores sobre o Brasil mais alta, e a taxa de câmbio depreciou.”

O Brasil ainda lida com uma forte alta dos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Em agosto, o governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciaram a criação da bandeira tarifária “escassez hídrica”, a mais cara desde a criação do sistema de bandeiras, em 2015.

O objetivo é compensar o custo do uso das termelétricas na geração de energia no país, em razão da ausência de chuvas, que vem reduzindo o potencial das hidrelétricas.

Fonte G1

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