Vendas de materiais de construção crescem 28% no Ceará; preços também sobem

A variação foi a maior dentre os segmentos analisados pela Pesquisa Mensal do Comércio do Estado do Ceará. Construção civil se preocupa com os preços

Dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, reforçam o cenário. Em maio, o peso do setor de construção na receita do estado foi maior: 11,2%, frente 8,6%, de fevereiro de 2020, considerado pré-pandemia.

Também houve aumento nas receitas das empresas do setor no Estado, em 3,4%. Essa é a terceira alta consecutiva.

Em meio ao crescimento nas vendas, o preço dos materiais e insumos está também está aumentando, o que preocupa a construção civil. De acordo com dados cedidos pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), houve alta de até 138,7% em insumos entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021.

AUMENTO DA PROCURA

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Maquinismo, Ferragens e Tintas de Fortaleza (Sindimac), Cid Alves, pontua fatores que influenciaram no aumento da demanda e consequente aumento nos preços.

No ano passado, a Selic chegou ao menor patamar histórico, em 2% ao ano. Isso incentivou o crédito, levando pessoas tanto a comprar mais imóveis como a buscar dinheiro nos bancos para fazer reformas e construções.

O aumento da demanda mundial também colaborou para as vendas no Estado. Com o dólar alto, indústrias de material de construção começaram a exportar, diminuindo ou acabando com o volume de produtos em estoque e aumentando os preços. Os valores também foram afetados por fatores externos.

Houve também um aumento de preços do transporte marítimo, o frete marítimo subiu para mais de o dobro, quase o triplo do preço. Teve aquele navio encalhado, aumentou o preço do frete. Também tivemos aumento dos combustíveis e da energia elétrica

Cid Alves

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Maquinismo, Ferragens e Tintas de Fortaleza (Sindimac)

”.

O presidente do Sinduscon-CE, Patriolino Ribeiro, acrescenta que a paralização de fábricas de insumos diante da pandemia levou a um desbalanço de oferta e demanda no mercado.

Para ele, o pagamento do auxílio emergencial contribuiu para uma maior busca por insumos de forma doméstica.

“Com o auxílio emergencial, muitas pessoas que sequer tinham banheiro em casa ou precisavam fazer reformas, partiram para comprar cimento, tijolo, PVC, lavatórios. Compras pequenas, mas feitas por milhões de pessoas. O que aconteceu é que sumiu o material do mercado, com a alta procura o preço cresceu”, explica Patriolino.

O presidente do Sindimac projeta que a demanda continuará alta em 2021. Para o primeiro semestre de 2022 a expectativa é de algum desaquecimento, seguido de grande crescimento para o setor no segundo semestre do ano que vem.

PRODUTOS EM FALTA E PREÇOS MAIS ALTOS

Cid destaca que a busca excessiva levou ao esgotamento de estoque de alguns produtos, sobretudo a matéria prima que dá brilho aos materiais e cerâmicas.

“Teve uma normalidade, mas ainda está muito longe de uma disponibilidade de antes da pandemia. Teve o próprio câmbio, uma cesta de fatores que faz com que nossos setores tivessem um aumento grande de preços”, explica.

Patriolino relata que no ano passado tijolo e cimento tiveram altas expressivas, mas voltaram os preços a normalidade. O grande vilão do momento é o aço.

Ele afirma inclusive que o estado já está buscando importar a matéria prima da Turquia, o que trará uma economia de 20% para o setor mesmo com os custos de frete e a variação do câmbio.

Conforme dados do Sinduscon, o Vergalhão CA 60 5 e 6 mm, que custava R$ 4,08 em janeiro do ano passado agora custa R$ 9,74, um aumento de 138,7%. Veja as maiores variações.

Material Valor Janeiro/2020 Valor agosto/2020  

Valor fevereiro/2021

Variação
Vergalhão CA 60 5 e 6 mm  R$ 4,08  R$ 4,28  R$ 9,74 138,70%
Vergalhão CA 50 6,3 mm  R$ 3,45  R$ 3,60  R$ 8,04 133,00%
Vergalhão CA 50 8,0 mm  R$ 3,43  R$ 3,58  R$ 7,90 130,30%
Vergalhão CA 50 12,5 à 25 mm  R$ 3,20  R$ 3,34  R$ 7,31 128,40%
Vergalhão CA 50 10,0 mm  R$ 3,27  R$ 3,42  R$ 7,46 128,10%
Tijolo c/ 8 Furos 9x19x19  R$ 340,00  R$ 550,00  R$ 600,00 76,50%
Eletroproduto CORR Flex 20MMX50M  R$ 0,66  R$ 0,76  R$ 1,13 71,60%
Caixa Luz Eletro Flex 4X2  R$ 0,85  R$ 0,98  R$ 1,46 71,30%
Bucha Red Sold LGA 60X40MM  R$ 3,55  R$ 4,09  R$ 5,80 63,40%
Tubo PVC Sold 32X6M  R$ 19,22  R$ 22,13  R$ 31,37 63,30%

INDÚSTRIA SE PREOCUPA

O presidente do Sinduscon se preocupa com a incerteza de quando os preços irão voltar a um patamar pré-pandemia. Segundo ele, isso pode prejudicar novos lançamentos das construtoras e incorporadoras.

“Essa é a grande preocupação para as construtoras e incorporadoras, saber se vai baixar. Tem construtoras segurando lançamentos com receio de não saber precificar. Não adianta colocar um preço mais alto e não vender ou manter o preço mais baixo e ter prejuízo”, diz.

Patriolino ressalta que isso pode levar à falta de alguns tipos de imóveis no mercado, já que grande parte dos estoques do último período de grandes lançamentos, entre 2012 e 2015, já está chegando ao fim.

Ele prevê para o próximo ano valorização de imóveis tanto novo como usados devido ao fenômeno.

Fonte: Diario do Nordeste