Por Julia Alencar
Uma vez ouvi dizer que existe um bichinho cuja picada gera sintoma agudo e inconfundível: a vontade de viajar. Esse bichinho inquieto costuma nos picar após nossa primeira viagem internacional e o sintoma não para nunca mais. Viajar se torna uma necessidade de primeira ordem e começamos a viver sempre planejando o próximo roteiro, na expectativa de uma nova viagem. Tive a sorte de fazer minha primeira viagem internacional aos 14 anos, para o velho continente – a Europa. Fui vítima do tal bichinho e, antes mesmo de voltar para casa, já me via planejando a próxima viagem. Existe algo sobre imergir em outras culturas, conhecer gente diferente e ter experiências novas que me envolve de maneira difícil de explicar em palavras.
Quando viajo, é como se deixasse minhas barreiras em casa. Faço amizade com pessoas no metrô, ensaio passos de dança pelas ruas e até mesmo como a sobremesa antes do jantar. Falando em comida, essa é a minha parte preferida da viagem. Existe forma mais intensa de mergulhar em outra cultura? Comer croissant em Paris, bacalhau em Lisboa e goulash na República Tcheca transcende o próprio ato. É, literalmente, experimentar o outro país. É quando sentimos na pele (ou, nesse caso, no estômago) o que significa aquele alimento para as pessoas daquele lugar. É a chance de expandir o paladar, provar coisas novas e se render às tentações. Além do que, minha barriguinha fica toda sorrisos.
Outra coisa que para mim é essencial são os museus. Visitar um museu é adentrar num universo paralelo, numa época distante onde o mundo funcionava de forma diferente. É respirar a história de um lugar e aprender coisas novas. Achei fascinante ver as carruagens originais de D. João VI em Lisboa, no Museu dos Coches e os pijamas listrados dos prisioneiros de Auschwitz no museu do palácio Les Invalides, em Paris. Na verdade, foi ali que aprendi sobre as duas grandes guerras e sobre o nazismo. Também não foi na escola que aprendi sobre o holocausto, mas na própria Alemanha e, em seguida, na República Tcheca, onde tive a oportunidade de visitar o campo de concentração Theresienstadt. Foi em Versailles que aprendi sobre a Revolução Francesa e em Lisboa vi o exato local de onde saíram as caravelas destinadas ao Brasil. É fácil gostar de história quando está viva e pulsante ao seu redor.
Por último, gosto de ir aos bairros com menos turistas, para fugir um pouco do comum e entender melhor como as pessoas daquele país vivem e o que gostam de fazer. Adoro visitar mercadinhos, parques e feirinhas locais. Experimentar comida de rua, pegar o metrô… São experiências enriquecedoras e momentos únicos. Acho importante, também, tirar alguns dias para andar sem rumo e explorar os lugares sem pressa, sem roteiro e sem agenda.
Viajar é sobre ampliar os horizontes e modificar a perspectiva. É sobre se colocar no lugar do outro e respeitar as diferenças. É voltar a ser criança e sentir a alegria indescritível de fazer algo novo. É sobre voltar com mais bagagem cultural e experiências. É, acima de tudo, sobre evoluir.