Stephan é o orgulho da família Steverink. Com apenas 15 anos, acumula medalhas e recordes nacionais e internacionais, esporte que pratica desde pequeno. Graças ao desempenho precoce, já é apontado como uma das principais revelações para os próximos ciclos olímpicos.
O sucesso do caçula, no entanto, também ensejou uma disputa na família Steverink. Uma disputa do bem. Mas, ainda assim, uma disputa.
Stephan é filho do holandês Sander, radicado no Brasil desde o início da década de 1990, e da médica pernambucana Gisélia – ambos se conheceram em um bar na zona sul de São Paulo e engataram um namoro que evoluiu para casamento. Hoje, são separados.
– Sempre houve uma “briga” com meu pai, que quer que eu vá para a Holanda, e minha mãe, que quer que eu nade aqui. Como eu nasci e comecei no Brasil, acabou que fiquei aqui. Mas os holandeses me dão muitas oportunidades e querem que eu vá para lá – afirmou o nadador.
Para entender melhor essa história, é preciso rebobinar um pouco. Stephan começou a nadar com 3 anos, em uma academia, basicamente “porque a mãe mandou”. Em paralelo à natação, também fez aulas de judô e piano. Com três anos de prática nas piscinas, passou a disputar os primeiros campeonatos competitivos. Como levava jeito para a coisa, aos 9 anos concordou com os pais que devia seguir somente nas piscinas.
Na mesma época, Stephan passou a fazer parte do projeto Novos Cielos, apadrinhado pelo campeão olímpico Cesar Cielo. O jovem passou por duas treinadoras até cair nas mãos de outro técnico, Eric Sona, em 2016. Ambos continuaram a parceria mesmo com o fim da iniciativa de Cielo e, hoje, treinam juntos na Associação Atlética Banco do Brasil, em Itapecerica da Serra, em São Paulo.
– Ele é um garoto que, desde o início, se mostrou muito diferenciado. Tem uma vontade própria, diferente dos outros atletas todos com os quais já trabalhei. Além das metas estabelecidas pelo treinador, o Stephan não depende do que se estabelece. Tem as dele. Muitas vezes, durante os treinamentos, eu proponho metas fáceis e ele vai além. Atinge a minha, mas por não atingir a meta dele, se decepciona. Ele pesquisa sobre natação, o ranking americano, o ranking europeu, visualiza os adversários do mundo. Está correndo atrás de um sonho olímpico – comentou Sona.
As provas principais de Stephan são os 200m peito, 200m medley, 400m medley e 1.500m livre. Ele detém alguns recordes nacionais em categorias de base.
Enquanto progredia em cenário nacional, Stephan também passou a viajar para competir na Holanda, muito por sugestão – e pressão, no bom sentido – do pai. A primeira participação em um torneio no país europeu gerou uma situação curiosa, que o surpreendeu.
– A primeira vez que fui à Holanda para nadar foi em 2017, porque meu pai queria. Eu já me destacava um pouco aqui no Brasil, mas lá muita gente não me conhecia e achava que meus tempos eram mentira. Achavam que eu usava doping, sei lá. Achavam que eu fazia alguma coisa maluca, tomava alguma coisa, que eu treinava 15km por dia. Ano passado alguns técnicos até fizeram uma brincadeira dizendo que eu estava de mudança para lá, então era para todo mundo nadar mais rápido – disse o nadador, que compete pelo PSV Eindhoven quando vai à pátria do pai.
Um dos motivos para suspeitarem do desempenho ocorreu porque Stephan quebrou o recorde nacional da categoria que pertencia havia quase duas décadas a Pieter van den Hoogenband, bicampeão olímpicos dos 100m livre (2000 e 2004). Detalhe: a piscina onde ocorria o campeonato levava o nome do lendário velocista.
– Todos os repórteres que estavam lá queriam me entrevistar. Mas, como a competição tinha acabado de começar, eu precisava descansar e não pude falar – contou, aos risos.
Passada aquela rejeição inicial, Stephan conseguiu “convencer” os holandeses de seu valor. Mais do que isso, chamou a atenção da federação holandesa de natação (KNZB), que passou a cobiçá-lo uma vez que ele tinha dupla nacionalidade.
– Agora sou conhecido na Holanda. O pessoal do Brasil não quer que eu saia daqui e o pessoal da Holanda quer que eu vá para lá. As provas que mais chamaram a atenção foram os 400m medley e os 200m peito. O técnico do PSV sempre me pergunta quando eu irei de vez para lá. É sempre assim. Também tem muitos caçadores de talentos que sempre vão falar com o meu pai.
No início desse ano, Stephan deu um pequeno indício de sua preferência. Convocado para defender a seleção brasileira que foi ao Campeonato Sul-Americano juvenil, não apenas aceitou como teve ótima performance: faturou oito medalhas, das quais cinco de ouro, e saiu do evento em Santiago, no Chile, como um dos grandes nomes.
A participação reafirmou seu desejo, que era de defender o Brasil. Entretanto, ele sabe que ainda terá de decidir, quando se tornar adulto, se competirá pelo país natal ou a nação do pai. Caso opte pela Holanda, precisará se mudar de mala e cuia para a Europa.
– O que eu mais quero é representar o Brasil nas Olimpíadas. Mas só vou pensar nisso quando terminar o Ensino Médio aqui [está no primeiro colegial]. Lá na Holanda eu ganharia uma ajuda [da federação]. Um atleta da minha idade, com menos expressão que eu, ganha uns 700 euros por mês. Já me ofereceram plano de carreira e entrada na seleção nacional, isso pesa – afirmou o nadador, que já rejeitou propostas de grandes clubes brasileiros para seguir na AABB.
Independentemente da escolha, Stephan tem um sonho que transcende a opção por bandeira.
– Eu sempre sonhei com uma final olímpica. Mas o sonho, sonho mesmo é o pódio olímpico. Passo a passo, quero chegar lá.
Fonte: Globo esporte.cpm