Protagonista de ‘O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu’, a atriz e travesti Renata Carvalho, natural de Santos, no litoral de São Paulo, fez um grande desabafo após, pela segunda vez, sua apresentação ser cancelada em Recife. “Eu sei o que é a censura do corpo trans, mas a minha arma é o teatro. É com ela que eu respondo. Do teatro eles não vão me tirar”, afirma.
Segundo Renata, a peça estava com três apresentações marcadas para acontecer em janeiro, mas elas foram canceladas e a equipe não foi informada. “É muita tristeza porque a arte não pode ser cerceada de maneira nenhuma. Eles nem tentaram entrar em contato com a gente. Simplesmente cancelaram a apresentação”, afirma.
Após a repercussão do caso, Renata conta que o curador do evento, Paulo de Castro, presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), indicou que a peça poderia ser apresentada em uma boate LGBT.
“Depois que ele cancelou, da repercussão negativa, ele propôs que a gente se apresentasse no particular. Tudo extraoficial. Também acabou vindo à tona que as peças não receberam dinheiro no ano passado. Então, além da censura, tem espetáculos saindo e o pessoal cobrando”.
Procurado pelo G1, Paulo de Castro informou que não quer se manifestar sobre as declarações de Renata.
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Peça estava na programação do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos, mas foi cancelada. — Foto: Reprodução/Facebook
Apresentações
Renata conta que a peça “O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu” já foi apresentada 200 vezes e vista por 16 mil pessoas. “É uma luta contra as pessoas atacando a gente. Tivemos problemas em todas as cidades que nos apresentamos, menos em Belfast, na Irlanda do Norte, Cabo Verde, na África, São Paulo (SP), Santos (SP) e Curitiba (PR)”.
A atriz afirma que as apresentações realizadas em Santos tiveram boa aceitação do público. “Em Santos, o teatro já estava acostumando com esse corpo trans. O Brasil é que não”.
Para esse ano, ela conta que a peça deve ser apresentada novamente em São Paulo e Rio de Janeiro e também irá estrear em Londres e Portugal. “Também estamos tentando apresentar na Escócia”.
Exclusão
Natural de Santos, Renata afirma que a exclusão é tão grande que, no início, nem ela ‘queria ser travesti’. “Quando eu me percebi travesti, quando assumi minha identidade, isso mudou minha vida”, destaca.
Para ela, é difícil vislumbrar mudanças positivas no atual cenário do país. “Estamos vivendo uma ‘ditadura política eclesiástica’, uma mistura entre a política e a religião”, finaliza.
Fonte: G1