Ossadas humanas surgem ao lado de igreja em sítio histórico de Itamaracá e são danificadas por carros e pedestres

Ossos foram encontrados na área externa da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Velha, em Itamaracá — Foto: Marina Meireles/G1

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Sob a área externa da secular Igreja de Nossa Senhora de Conceição, em Itamaracá, no Grande Recife, ossos de pelo menos seis pessoas foram encontrados por moradores da região. Estima-se que os esqueletos tenham sido enterrados antes do século 19 e ficaram à mostra com a recente erosão causada por chuvas e pela passagem de veículos, que transitam por cima dos restos mortais e põem em risco a integridade de parte da história colonial de Pernambuco.

Fundada na Rua João Paulo II, a única do distrito de Vila Velha, a igreja foi construída entre 1524 e 1529. É uma herança histórica do primeiro povoado da capitania de Itamaracá, uma das 15 divisões do território brasileiro no período colonial, segundo a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). A edificação está em processo de tombamento na esfera estadual desde 1990.

Ossos foram encontrados na área externa da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Velha, em Itamaracá — Foto: Marina Meireles/G1

Ossos foram encontrados na área externa da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Velha, em Itamaracá — Foto: Marina Meireles/G1

Ainda segundo o órgão, a igreja foi fundada três séculos antes da construção de cemitérios, surgidos no século 19. Sem locais específicos para sepultamento, era comum que o clero fosse enterrado no interior do templo, enquanto moradores da região eram colocados do lado de fora, diretamente na terra.

Pesquisadores tomaram conhecimento da existência dos esqueletos durante uma reforma na estrutura da igreja, entre 1984 e 1985. Em 2013, depois de 28 anos, o primeiro deles veio à superfície na área em frente à igreja.

Na época, a área foi coberta com terra da região e, desde então, não ganhou nenhuma sinalização nova para alertar moradores e turistas sobre o achado. A ação do tempo, por sua vez, desbotou e enferrujou as placas que já existiam antes da descoberta dos ossos, com informações históricas e praticamente ilegíveis sobre Vila Velha e a igreja.

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Apesar do dano ou inexistência de informações que mostram o papel que a Vila representa na história do estado e do país, moradores da região reconhecem a importância da descoberta de cada osso, moeda ou objeto no chão. (Veja vídeo acima)

“Quando chove bem forte, a água vai descobrindo. Não é ninguém que mexe, é a água que vai tirando”, conta a tapioqueira Idalice Batista, que nasceu e cresceu em frente à igreja e vive no distrito de Vila Velha, com cerca de 600 pessoas.

O aposentado inglês Cristopher Sellars, morador da região desde 2006, afirma que o espaço deveria ser valorizado. “O poder público deveria isolar e estudar isso aqui. O potencial histórico dessa área é grande e tinha que ter atenção dos órgãos”, sugere.

Placa informativa que contém história de Vila Velha está desbotada e enferrujada — Foto: Marina Meireles/G1Placa informativa que contém história de Vila Velha está desbotada e enferrujada — Foto: Marina Meireles/G1

Placa informativa que contém história de Vila Velha está desbotada e enferrujada — Foto: Marina Meireles/G1

Para a Fundarpe, a ausência de placas ou de isolamento da área em que os ossos foram encontrados não significa o desconhecimento do órgão a respeito da situação.

“Temos monitorado o afloramento das ossadas. Quando o material aflora, fica vulnerável a transgressões da população”, afirma o técnico em preservação, restauro e arqueologia histórica do órgão, Roberto Carneiro.

Questionado pela reportagem sobre a possibilidade de sinalizar a área e de fazer pesquisas arqueológicas para precisar a época em que os corpos foram enterrados, Carneiro explica que a cobertura de terra é o procedimento mais adequado a se fazer. “Recomendamos à prefeitura que os ossos sejam cobertos com terra para que novas gerações possam estudar no futuro”, diz.

Veículos passam pelo local em que estão esqueletos de pessoas enterradas antes do século 19, em Itamaracá — Foto: Marina Meireles/G1

Veículos passam pelo local em que estão esqueletos de pessoas enterradas antes do século 19, em Itamaracá — Foto: Marina Meireles/G1

“Se as pessoas pegam o material do chão, a gente não tem mais o registro. Por isso, a recomendação é cobrir para, no futuro, captar recursos para fazer um estudo arqueológico”, afirma a superintendente do Iphan de Pernambuco, Renata Borba.

Outra recomendação feita à prefeitura de Itamaracá é a de redução do tráfego de veículos, mas o município alega aguardar orientações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para isolar a área.

“Em junho deste ano, recebemos uma recomendação de arqueólogas do Iphan para isolarmos uma área entre dez e 30 metros, mas não sabemos onde começa e onde termina. Pedimos orientações e estamos aguardando”, conta o diretor de cultura de Itamaracá, Nivaldo Gomes.

Diretor de cultura de Itamaracá, Nivaldo Gomes afirma aguardar orientações do Iphan para isolar área em que ossos foram encontrados — Foto: Marina Meireles/G1

Diretor de cultura de Itamaracá, Nivaldo Gomes afirma aguardar orientações do Iphan para isolar área em que ossos foram encontrados — Foto: Marina Meireles/G1

Por meio de nota, o Iphan informou que as recomendações foram feitas em março e, desde então, o órgão está à disposição para auxiliar nas atividades. Também informou ter determinado “como medidas urgentes o isolamento permanente da área, cercamento com material de baixo impacto que permita o uso da igreja, reforço da camada de areia sobre as ossadas e implantação de placa de sinalização e atividade de educação patrimonial”.

Segundo a superintendente do Iphan no estado, os três órgãos devem se reunir na segunda semana de dezembro para definirem o que vai ser feito no local. “A prefeitura já se colocou à disposição para fazer a obra e os técnicos da Fundarpe e do Iphan vão orientar sobre a melhor forma de fazer o processo”, afirma Renata Borba.

Esqueletos encontrados em Vila Velha, em Itamaracá (PE), ficam expostos à passagem de carros — Foto: Marina Meireles/G1

Esqueletos encontrados em Vila Velha, em Itamaracá (PE), ficam expostos à passagem de carros — Foto: Marina Meireles/G1

Fonte:  G1

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