Já passava da metade do Prêmio da Música Brasileira, que seguia dentro dos conformes, quando o cantor e compositor Chico César levantou a mão, formando um “L” com um polegar e um indicador.
O paraibano fez o gesto quando subiu ao palco para levar o título de melhor álbum de pop/rock/reggae/hip-hop/funk, com “Estado de Poesia”, e foi seguido por Criolo, Leci Brandão e o grupo Moacyr Luz e Samba do Trabalhador na entrega da categoria seguinte, samba.
Os sinais suscitaram durante alguns segundos gritos de “Lula livre” -acompanhados de poucas vaias ao fundo- na plateia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (centro), horas após o PT registrar a candidatura do ex-presidente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O público era formado por artistas e outros espectadores pagantes.
A 29ª edição do prêmio anual que reverência a música brasileira homenageou, na noite desta quarta-feira (15), o músico carioca Luiz Melodia, que morreu há cerca de um ano combatendo um câncer na medula óssea, aos 66. As atrizes Camila Pitanga e Debora Bloch dividiram a apresentação.
O evento reforçou a presença negra: dos 21 artistas que subiram ao palco para cantar clássicos de Melodia, dez eram negros. Entre eles estavam Sandra de Sá, Alcione e Fabiana Cozza -que recentemente renunciou a um convite para interpretar Dona Ivone Lara em um musical após críticas de que seria “branca demais”.
Uma mistura de gerações também marcou a noite. Lenine cantou “Quase Fui lhe Procurar” com seu filho, João Cavalcanti; Caetano Veloso e Maria Bethânia entoaram “Pérola Negra” com Moreno, Zeca e Tom Veloso (ovacionados de pé, como Alcione); e Lazzo encerrou com Liniker e Iza embalando a imortal “Negro Gato”.
Foi só na música final que a premiação lembrou do funk, que apesar de ser um dos gêneros mais ouvidos do país não foi representado nas cerca de 80 indicações. O prêmio é conhecido pelo extenso número de categorias -foram 36 neste ano, incluindo a nova videoclipe.
PRESENÇAS E AUSÊNCIAS
A lista de convidados que se apresentaram mostra a importância que a classe artística dá à premiação e ao seu homenageado, apesar da pouca exposição que o prêmio em si rende aos vencedores.
Levaram duas categorias Chico Buarque (melhor canção, em parceria com Cristóvão Bastos, e melhor álbum de MPB), o compositor e produtor Mario Adnet (arranjador e DVD) e As Bahias e A Cozinha Mineira (grupo e álbum de canção popular).
Chico e outros premiados como Roberto Carlos, Chitãozinho e Xororó, Lulu Santos e Gal Costa, porém, não apareceram neste ano. Idealizada e dirigida pelo empresário e produtor José Maurício Machline e roteirizada por Zelia Duncan, a premiação celebra um nome da MPB a cada edição –tradicionalmente, um artista vivo e, no ano seguinte, um que já morreu.
Ney Matogrosso foi o homenageado em 2017, quando Machline não conseguiu patrocínio, mas salvou o evento com recursos próprios, shows sem cachê e a venda inédita de entradas, no valor de R$ 100 a R$ 300.
Neste ano, mesmo com um patrocínio da Petrobras, os ingressos pagos foram mantidos, só que mais baratos: R$ 150 a inteira e R$ 75 a meia. Os vencedores são escolhidos por um total de 22 jurados músicos, jornalistas e produtores –entre eles só duas mulheres– pela internet. O artista que recebe mais votos ganha. Foram inscritos 1.327 álbuns, 132 DVDs e 144 videoclipes, um novo recorde segundo os organizadores.
CONFIRA OS VENCEDORES DAS 36 CATEGORIAS
Canção popular
– Álbum: “BIXA”, de As Bahias e A Cozinha Mineira
– Cantor: Roberto Carlos
– Cantora: Alcione
– Dupla: Xitãozinho e Xororó
– Grupo: As Bahias e A Cozinha Mineira
MPB
– Álbum: “As Caravanas”, de Chico Buarque
– Cantor: João Bosco
– Cantora: Zélia Duncan
– Grupo: Equale
Pop/rock/reggae/hip hop/funk
– Álbum: “Estado de Poesia, Ao Vivo”, de Chico César
– Cantor: Lulu Santos
– Cantora: Gal Costa
– Grupo: Novos Baianos
Samba
– Álbum: “Ao Vivo, no Bar Pirajá”, de Moacyr Luz e Samba do Trabalhador
– Cantor: Criolo
– Cantora: Leci Brandão
– Grupo: Moacyr Luz e Samba do Trabalhador
Regional
– Álbum: “Caipira”, de Mônica Salmaso
– Cantor: Mestrinho
– Cantora: Mônica Salmaso
– Dupla: As Galvão
– Grupo: Trio Nordestino
Outras categorias
Melhor canção: “Tua Cantiga”, de Cristóvão Bastos e Chico Buarque
Revelação: Almério
Arranjador: Mario Adnet
Projeto visual: Felipe Taborda por ‘Campos Neutrais’, de Vitor Ramil
Instrumental
– Álbum: “Quebrantoo”, de Yamandú Costa e Alessandro Penezzi
– Grupo: Hermeto Pascoal e Grupo
– Solista: Yamandú Costa
Especiais
– Videoclipe: “Culpa”, de O Terno
– DVD: “Jobim Orquestra e Convidados”, de Paulo Jobim e Mario Adnet
– Álbum eletrônico: “Sintetizamor”, de João Donato e Donatinho
– Álbum em língua estrangeira: “Ay Amor!”, de Fabiana Cozza
– Álbum erudito: “Heitor Villa-Lobos, Sinfonias nº 8, 9 e 11”, da Orquestra Sinfônica do Estado de SP (Osesp)
– Álbum infantil: “Deu Bicho na Casa”, de Sula Kossatz
Fonte: notícias ao minuto