Universidade Federal do Ceará desenvolve a ‘Wolf Mask’, equipamento para tratar casos respiratórios graves como os de Covid-19

Foto: Ribamar Neto/UFC/Reprodução

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Uma nova máscara para uso em pacientes com dificuldades respiratórias, inclusive, nos casos graves de Covid-19, foi desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC). O protótipo foi batizado de “Wolf Mask” (máscara lobo, em tradução livre) e tem como características ser não invasiva e full face – ou seja, cobre todo o rosto. A proposta do equipamento é o uso em diferentes situações hospitalares e até em atendimento móvel.

O vice-reitor e idealizador do projeto, professor Glauco Lobo, explica que a ideia surgiu a partir do uso de máscaras de mergulho adaptadas para funções respiratórias em outros países, e até mesmo no Brasil, no início da pandemia de coronavírus.

“Mas entendemos que adaptar uma coisa que não foi feita para aquilo não é o mais indicado. Por isso, nossa ideia foi desenvolver um projeto já com as características de uma máscara de assistência ventilatória não invasiva”, comenta o vice-reitor.

Lobo enfatiza que o objetivo do novo equipamento é ser mais uma opção na rede hospitalar, e não substituir outros já existentes. Agora o desafio é encontrar um parceiro externo que possa produzir um número maior de máscaras para a realização de testes em pacientes e, assim, receber a autorização para uso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A estimativa da equipe é concluir todas essas etapas ao longo do próximo ano.

Funcionalidade da ‘wolf mask’

O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Rodrigo Porto ‒ responsável por articular a montagem da equipe multidisciplinar que desenvolveu o protótipo ‒, informa que o depósito da patente já foi feito e explica as características inovadoras da máscara.

“O principal diferencial, além de um ajuste anatômico, é que a Wolf Mask terá mais pontos de conexão com os equipamentos hospitalares. Isso permitirá seu uso inclusive no pré-atendimento hospitalar e por socorristas, em ambulâncias e UTIs móveis, por exemplo”, afirma.

Rodrigo Porto destaca ainda a contribuição da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), que repassou recursos financeiros para a compra de equipamentos e insumos do projeto.

Os testes do protótipo com voluntários foram realizados no Laboratório de Simulação da Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP) do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e mostraram a eficácia do equipamento. De acordo com as fisioterapeutas Andréa Nogueira e Renata Vasconcelos, integrantes da equipe multiprofissional que trabalha no projeto, foram feitos testes com os chamados juízes, que são especialistas na área, e com profissionais de saúde com experiência em ventilação mecânica não invasiva.

Renata explica que foi utilizado um monitor multiparamétrico para avaliar a eficácia da oxigenação por meio do acompanhamento dos sinais vitais dos voluntários.

Já Andréa comenta que essa é “uma máscara multifuncional que possibilita a aplicação em três situações diferentes, a depender do equipamento disponível no serviço de saúde e da severidade do quadro clínico do paciente”.

Assim, o novo aparato poderia ser usado em equipamentos como o respirador mecânico (circuito duplo), bipap (circuito único) ou conectado na rede de gases (alto fluxo com oxigênio e ar comprimido). “No geral, para cada situação citada temos [atualmente] uma interface específica e a Wolf Mask se aplica às três situações”, comenta a fisioterapeuta.

Design da nova máscara

A UFC explica que um dos primeiros desafios da equipe foi a concepção de um formato que deixasse o protótipo ao mesmo tempo funcional e confortável para uso pelos pacientes.

“O produto que projetamos tinha o objetivo, em princípio, de ter essa interface multifuncional adaptável às várias configurações. Outros dois fatores levados em consideração e que foram desafios técnicos significativos são o uso prolongado exigido pelos tratamentos (máximo conforto) e o consumo de oxigênio ‒ que exige da interface uma adaptação precisa ao rosto, de modo a diminuir os vazamentos e evitar desperdícios”, explica o professor Eugênio Moreira, do curso de arquitetura e urbanismo da UFC.

Wolf mask foi testada para pacientes em diferentes posições no leito. — Foto: Ribamar Neto/UFC/Reprodução

Wolf mask foi testada para pacientes em diferentes posições no leito. — Foto: Ribamar Neto/UFC/Reprodução

O desenho também foi projetado levando em consideração diferentes posições do paciente no leito, como, por exemplo, na pronação, quando o paciente é deitado de “barriga para baixo”, o que mostrou efetividade em casos de pacientes internados com Covid-19.

“Para isso, tomamos como base o desenho de máscaras de CPAP [normalmente utilizadas no tratamento de apneia] e máscaras snorkel de mergulho”, informa o professor de arquitetura e urbanismo.
A equipe também avaliou a condução dos fluxos inspiratório e expiratório e as entradas foram colocadas no topo da cabeça para facilitar a operação. “O desenho dessas válvulas também foi pensado para ter uma máxima flexibilidade na montagem dos diversos setups, para que fosse atingida com o mínimo de peças extras possível, eliminando a necessidade de complexas montagens para a preparação de uma configuração específica”, detalha Eugênio Moreira.
A UFC explica que participaram do desenvolvimento do projeto os professores:
    • Diego Eneas Peres Ricca, do curso de design;
    • Arnaldo Aires Peixoto Júnior, da Faculdade de Medicina;
    • Renan Magalhães Montenegro Júnior, da Faculdade de Medicina e da Gerência de Ensino e Pesquisa do Complexo Hospitalar da UFC;
    • Jarbas Aryel Nunes da Silveira e Fábio Cisne Ribeiro, do Departamento de Engenharia de Teleinformática;
    • Além do estudante e bolsista do curso de design, Pedro Campos, e de Diego Normandi Maciel Dutra, que colaborou com a comunicação visual da interface.

Fonte: G1 CE

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