Avanços no tratamento da covid-19 ajudam a reduzir risco de morte

Foto: Divulgação

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Conhecimento adquirido por profissionais de saúde tem evitado mais complicações e ajudado a salvar a vida de pacientes afetados pela doença

Após 10 meses da descoberta, a covid-19 já tirou a vida de mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo e a pandemia ainda não está sob controle. Além disso, não há nenhum medicamento específico para tratar a infecção. Apesar disso, avanços conquistados no tratamento e conhecimento da doença estão ajudando a lidar melhor com suas consequências, o que reduz o risco de morte.

Os pneumologistas Carlos Carvalho, Diretor da Divisão de Pneumologia do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e José Rodrigues Pereira, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, comentam o que mudou desde o início da pandemia e como essas transformações foram importantes para evitar mais complicações em pacientes com a doença causada pelo coronavírus.

Potencial da doença e mudança na abordagem terapêutica

No início, os especialistas pensavam que a covid-19 atingia apenas as vias respiratórias. Porém, eles perceberam que o coronovírus circula no sangue, o que faz com que a doença causada por ele seja sistêmica e atinja diversos órgãos. Além disso, foram adquiridos conhecimentos sobre a resposta imune – que varia de acordo com o paciente e a carga viral no organismo – e os perfis que fazem parte do grupo de risco.

Esses conhecimentos mudaram a abordagem terapêutica adotada para tratar os pacientes, como explica Carvalho.

“A partir do instante que eu sei que o paciente pode ter arritmia, fenômenos trombóticos ou lesões renais, fico atento aos menores sinais dessas complicações. Se eu sei que pode ocorrer trombose, uso o anticoagulante de maneira mais precoce. Se sei que a inflamação exagerada vai me atrapalhar, uso corticoides. Vou adaptando o tratamento”, descreve.

Técnicas utilizadas

Os pneumologistas lembram que, com base na experiência da China, a recomendação era não utilizar a ventilação não invasiva, feita com o uso de máscara, mas esse recurso se tornou essencial para o tratamento de pacientes com quadros graves de covid-19, que apresentam insuficiência respiratória,

“Quando os chineses começaram a lidar com a doença, muitos profissionais de saúde se contaminaram e morreram, então eles falaram ‘não use ventilação não invasiva porque isso dissemina o vírus pelo ar e contamina quem está em volta do paciente’. A orientação era intubar direto e ir para a ventilação invasiva”, relata Carvalho.

Porém, de acordo com ele, essa regra mudou quando a covid-19 chegou na Europa. “Lá, eles têm um tipo de ventilação não invasiva feita com uso de capacetes. Com isso, tiveram um avanço potente no tratamento, o que preveniu intubação e reduziu a letalidade da doença”, explica.

Pereira explica que, nos casos em que a ventilação é feita por meio de máscara, ela é hermeticamente fechada, o que impede a disseminação do vírus. “A gente usa um aparelho chamado CPAP, que vai mandar o ar em alta pressão para os pulmões. Ele tem um tubo que se conecta a uma máscara hermeticamente fechada”, descreve.

Os especialistas citam também a pronação, técnica que consiste em virar o paciente de bruços. Este é um procedimento antigo, que já era usado para tratar casos graves de outras doenças respiratórias.

“A pronação começou na UTI. Já é uma técnica utilizada, por exemplo, na SARA [Síndrome da angústia respiratória aguda] e feita há vários anos em pacientes intubados”, detalha Pereira.

Ele explica que quando o paciente fica deitado de barriga para baixo, ocorre uma melhora da oxigenação dos pulmões.

Segundo Carvalho, o paciente pode ficar nessa posição por no máximo 16 horas, pois esse é o limite para evitar complicações, como escoriações na pele. Ele tem a impressão de que existem casos isolados em que a técnica ajuda mesmo aqueles que não estão intubados, mas não há comprovação científica sobre isso.

Medicamentos

Pereira afirma que em relação ao uso de medicamentos havia “algumas verdades encaradas como absolutas viraram grandes mentiras”. O primeiro exemplo que ele cita é o da cloroquina. “Hoje sabemos que ela não tem efeito nenhum, seja em casos leves ou graves”, destaca.

Houve também uma mudança drástica sobre a utilização de corticoides, já mencionados por Carvalho. “Era proibido dar cortisona, pois pode promover a queda de imunidade e, com isso, o paciente teria maior replicação viral e gravidade [da covid-19]”, lembra.

No entanto, a ciência mostrou que o efeito anti-inflamatório desses medicamentos são muito eficazes no tratamento de pacientes com quadros graves, pois eles sofrem com a inflamação causada pela reação exagerada do sistema imunológico ao vírus.

“Estudos mostraram que os corticoides são extremamente benéficos e diminuem a letalidade da covid-19”, destaca Carvalho. “Então, quando esses pacientes precisam de muito oxigênio e vão para a UTI, há indicação formal [do uso] desses medicamentos”, completa.

Segundo Pereira, os corticoides também trazem vantagens para pessoas que já estão recuperadas da covid-19, pois ajudam a diminuir os danos causados nos pulmões.

Protocolos de atendimento e compartilhamento de informações

Ainda em março, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP validou com a Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo um protocolo de atendimento que indica linhas de cuidado para todos os pacientes com covid-19, sejam casos leves ou graves.

Esse material está disponível para profissionais de saúde – inclusive por meio de aplicativo – e suas diretrizes são atualizadas conforme surgem novos conhecimentos.

“Há explicações sobre o uso de EPIs [equipamentos de proteção individual], como é feita a intubação, o passo a passo para fazer a pronação. Tem uma série de aulas e materiais disponibilizados”, detalha Carvalho. “Além disso, começamos a fazer o treinamento de equipes de diversos hospitais e estamos moonitorando, além dos nossos, até 600 leitos de UTI, a distância”, finaliza.

Fonte: R7

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