‘Se rompesse, a gente não ia ter como se salvar’, relata moradora do entorno de barragem em risco, no Ceará

Por André Costa e Alessandra Castro, G1 CE — Ceará

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Medo, desespero, tristeza e fé foram alguns dos sentimentos vivenciados pelos moradores das comunidades que ficam no entorno da barragem do Rio Granjeiro, em Ubajara, no interior do Ceará, durante a noite do último sábado (16) e a madrugada de domingo (17). Eles precisaram deixar as próprias casas por conta do risco de rompimento da barragem.

“Vamo, minha mãe, a gente tem que ir. Não tem jeito. Temos que ir em frente, com fé em Deus”, conta Maria de Lurdes Rodrigues Silva, de 45 anos, emocionada, sobre a saída de sua casa. Assim foi, também, a evacuação de mais de 500 famílias ao atenderem ao alerta.

Maria de Lurdes saiu de casa já de madrugada, por volta de 2h de domingo, após receber a notícia que deveria deixar o local imediatamente, por segurança. Ela e a família foram levadas ao abrigo do Santuário da Mãe Rainha, no Bairro São Sebastião, área afastada da barragem. Ela continua abrigada no local.

Segundo Maria de Lurdes, a mãe não queria deixar a casa, por medo de perder tudo, mas que não havia alternativa. “A gente tinha que sair. Se rompesse, não ia ter como se salvar. Imagina o perigo para a gente. Saímos chorando muito”, afirma.

Saída às pressas

O sentimento de desespero também foi vivenciado por Maria Nazidia Fernandes, de 64 anos, que também mora próximo à barragem e teve que sair às pressas, conforme relata. Nazidia ficou abrigada na casa da filha, que mora na zona urbana do município, distante da zona rural e da barragem.

“A gente saiu no aperreio, só com o básico, no desespero, com medo de não conseguir chegar na estrada”, lamenta dona Nazidia, afirmando que não conseguiu levar nem os cachorros. “A gente deixou nossos animais lá [na residência], só com Deus”, explica.

No entanto, sentiu alívio ao retornar para casa e encontrar todos vivos. Ela é um dos moradores que decidiram voltar para as residências mesmo sem ter recebido ainda o parecer favorável da Defesa Civil.

“Não era para a gente voltar, né. Era para aguentar mais, para ver como vai ficar a cheia. Mas eu não aguentei. A gente voltou porque tinha o meu pai deficiente e ele estava naquela agonia de querer vir para casa. Aí a gente veio”.

Retorno

Alguns moradores do entorno da barragem começaram a voltar para suas casas nesta terça-feira (19), mesmo sem a permissão da Defesa Civil. A Agência Nacional das Águas (ANA) informou que a expectativa é para que as famílias voltem para suas moradias a partir desta quarta-feira (20), após análise que vai verificar se a cota do reservatório do açude Granjeiro diminuiu dois metros – o que representa 50% da capacidade total.

Um novo sangradouro do reservatório foi aberto na manhã desta terça-feira (19), por volta das 10h da manhã. As obras para a criação do vertedouro iniciaram no último domingo (17), após a situação da barragem se complicar devido ao volume de chuvas na região.

Com a abertura do novo sangradouro, a expectativa é de que em 24 horas a cota do reservatório diminua dois metros, o que representa 50% da capacidade total, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). Com isso, os moradores poderão voltar para casa.

Segundo o prefeito de Ubajara, Rene Vasconcelos, os custos da obra do sangradouro será ressarcido à Prefeitura pela Defesa Civil Nacional e pela Agência Nacional das Águas. Mais de 500 famílias foram visitadas e orientadas a deixar a área até a eliminação dos riscos de alagamento.

Fonte: G1.com

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