Óleo de maconha vira ‘farmácia clandestina’

Com aumento da demanda e falta de regulamentação, cresce no Brasil o mercado clandestino do óleo, usado no tratamento de diversas doenças; pacientes e produtores vivem na insegurança

Tarso Araújo | Agência Pública – Numa cidade em Santa Catarina, uma mulher e um homem na casa dos 50 anos conversam despreocupadamente em frente a uma escola em junho. A reportagem da Agência Pública veio encontrar Leonardo*, que escuta atentamente Joana* contar a história de sua filha. Ela tem paralisia cerebral. A mãe já tentou de tudo para controlar as convulsões da moça de 22 anos. E agora quer tentar a maconha. Ele tem um pequeno frasco âmbar na mão e explica: “Você vai dar três gotas para ela, três vezes ao dia. E observa. Se ela não melhorar, você aumenta para cinco gotas”, diz. “Mas você tem que ir ao médico para ele acompanhar o quadro dela.” A dupla ainda fala sobre reportagens do Fantástico, plantas e os efeitos do CBD e do THC, moléculas responsáveis por suas propriedades terapêuticas. No final, a mulher tira discretamente do bolso algumas notas amarrotadas e as entrega. É o único momento da conversa que transparece alguma tensão. “São aqueles R$ 150 que te falei. É tudo que consigo agora, tá, Leonardo?”, diz. “Claro, não se preocupa”, responde o homem. Professora da escola municipal em frente, Joana conta que desde 2014 quer testar a planta no tratamento da filha. “Só que o óleo importado é caro demais, não dá pra mim. Então, assim que eu soube que você estava fazendo, eu falei: ‘Agora vai’.”

Cenas como essa estão se tornando cada vez mais comuns, com o aumento da oferta de óleos de maconha feitos no Brasil de modo artesanal – e clandestino. Produtores e pacientes relatam um número cada vez maior de usuários. Alguns deles se organizam para produzir seus próprios óleos. “Todo dia recebo e-mail de alguém querendo abrir associação ou ter autorização para cultivo coletivo”, diz Emílio Figueiredo, advogado que desde 2015 trabalha para regularizar essas iniciativas na Justiça. Uma delas, a associação de pacientes Abrace Esperança, em João Pessoa, ganhou uma liminar de uma juíza federal para fornecer óleo para cerca de 400 pacientes. “Temos que fazer um contraponto aos óleos importados”, diz Figueiredo, um dos líderes do Reforma, grupo de advogados que defende a revisão das políticas de drogas no Brasil.

Hoje em dia, os óleos importados são a primeira opção para quem decide fazer o tratamento com cannabis. E um dos maiores incentivos ao crescimento do mercado clandestino é a dificuldade para obter esses produtos, que depende de um processo burocrático e caro. Os produtos mais baratos custam US$ 200. Somando frete de cerca de R$ 150 e impostos, o custo mensal do tratamento não sai por menos de R$ 1.000. E pode chegar a R$ 7 mil para pacientes adultos, que precisam de maiores quantidades.

fonte: Noticias ao Minuto